- Estranho são os pombos dessa praça que estão sempre com essa cara de... - Ofendidos... - Isso!
Voltamos ao silêncio. Vinte minutos depois eu partia pra faculdade ainda cantarolando a excêntrica canção, sem pensar em quase nada - o que era novidade para mim, sempre com a cabeça afogada em notas, palavras e rostos.
Ao chegar, consulto o relógio - meia hora adiantado - tempo de sobra para rodar o prédio em busca de algo ou alguém interessante. Como era de se esperar de uma escola de música, seus corredores assemelham-se a um daqueles bosques que só existem nos livros infantis: as diversas notas e timbres aqui e ali, apesar de totalmente ao acaso, pareciam se combinar em prol de uma harmonia maior.
Passeando pelo segundo andar, num dos blocos mais afastados, ouço o som abafado de um orgão. Orgão? Achava que não havia nenhum nessas salas... vem de um auditório cuja porta não vi aberta. Movido pela curiosidade, tomo coragem e tento entrar sem chamar atenção.
Vejo-me na lateral do aposento, à minha frente está a fonte da melodia e sua executora: uma menina pálida de longos cabelos castanhos, que cacheavam na ponta. Já a conhecia de vista, sempre sozinha, não lembro de tê-la visto falar nada com ninguém.
Continua tocando, indiferente à minha entrada, cada vez mais intensa . Páro e apenas assisto, mas... espere, conheço esse som... o tal dueto das notas estranhas! Está aparentemente tocando apenas uma das vozes, acrescido de algumas notas e uma harmonia.
Levo imediatamente a flauta à boca e entro na música com a segunda melodia...
Continua...
enviado por César as 19:22

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