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03 abril 2007
Seis ou treze coisas que não se deve mostrar a uma passante, parte 2
Inicialmente sem reação, a possuidora da bela saia pega o papel. Como era de se esperar como resultado de uma atitude ousada minha, ela lê o lado errado, onde ironicamente havia copiado um trecho de "Seis ou treze coisas que eu aprendi sozinho", do Manoel de Barros - claro que não percebi isso na hora, a essa altura já tinha me dirigido para minha posição original e tentava disfarçar meu crescente nervosismo olhando o nada que passava rapidamente pela janela.

Parecia entretida com os versos. Faz uma pausa, lança para mim uma expressão confusa, volta à leitura... e desata a rir. Uma risada encantadora, devo admitir, mas não era bem a reação que eu esperava. Não lembro de haver muitas coisas engraçadas no texto do Baudelaire.

Estação Del Castilho - as portas do vagão se abrem e um desses "rapazes-moradores-de-academia-de-musculação" embarca, abrindo caminho entre um careca de terno cinza e o homem do embrulho.
- Com licença.

Voz grossa e firme, não aparentava ter mais de trinta anos, andar pesado e expressão agressiva. Muito suspeito. Ele alcança o centro do metrô, avista a minha Passante, abre um largo sorriso vai cumprimentá-la.

Bem previsível. Uma garota bonita (e com senso de humor o suficiente para rir de As Flores do Mal) como ela tem a possibilidade de escolher suas companhias. Era então de se esperar que fosse rodeada por essas caravanas de músculos sem cérebro que provavelmente baixam a cabeça ante cada um de seus caprichos.

Após trocarem algumas palavras inaudíveis, a bela ragazza entrega o pedaço de papel para o brutamontes, que lê com grande (e provavelmente fingido) interesse. Mais algumas palavras e ela aponta na minha direção.

Vale lembrar que, se meu rosto já estava corado pelo constrangimento, depois dessa identificação acusadora, senti as bochechas arderem de vergonha.

O grandalhão se aproxima ameaçadoramente com a folha já meio amassada nas mãos, olhando fixamente em meus olhos (e certamente veria o terror estampado neles, não fossem os óculos escuros) Pára diante de mim - preparo-me psicologicamente para a agressão que está por vir...
- Muito sensível - Ele diz numa voz macia - Adoro esse poema e achei seu gesto lindo.

Por um momento me sinto confuso...
- Gosta de Nélson Rodrigues? - Continuo tonto - Não conhece muito? Olha, toma de presente.

Ele então tira da mochila um exemplar de "O Beijo no Asfalto", anota na contra-capa um nome, telefone e um e-mail, entregando-me em seguida.
- Oh, minha estação, tchauzinho - Diz acenando.

Ainda leva uns minutos pra eu finalmente compreender o que passou. A bela saia já não está mais. O nome no livro é Luana, pode ser dela... ou dele, só saberei ligando...

Acho que prefiro continuar na dúvida...

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enviado por César as 17:49

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