Chegando na faculdade, costumo passar pelo mural onde alguns alunos expõem as partituras de suas músicas. Há algum tempo descobri que os nomes ali não são reais, apenas uma forma de evitar críticas diretas; com a prática aprendi a identificar quem é quem, independente de pseudônimos. Desde então observo o trabalho de duas amigas minhas, autoras dos poucos trabalhos dignos de apreciação.
Era exatamente isso que eu fazia quando uma dessas amigas veio me cumprimentar, enquanto pregava outra folha no muro de cortiça.
- Música nova? - Sim, quer ver?
Me passou o papel. Sabia que eu olharia e daria a opinião mais sincera possível; ou pelo menos, deveria saber. Já conhecia seu estilo: intervalos estranhos, ritmo difícil, muito boa em misturar duas ou três melodias. Daquela vez, contudo, não tinha sido muito bem sucedida.
- Não gostei. - Por quê? - Sei lá, as notas não estão encaixando direito, o ritmo está meio torto... - Torto é você! - Calma, não precisa me agredir, eu estava apenas... - Agredir? Você nem leu direito a partitura e já está criticando, como se fosse "O Músico"! - Ora, desculpa se não gosto de tudo que a "senhorita temperamental" faz. - Ah, não enche a minha paciência!
Pregou a folha de qualquer maneira e foi-se, pisando duro. Brigou com o namorado, desequilíbrio hormonal ou problemas em casa, na certa - tudo bem que fui um pouco seco, mas isso normalmente não a incomodaria. Hora da aula, o melhor era deixar isso pra lá.
Algumas semanas passaram sem revê-la. E se antes ela pendurava uma composição por semana, já não via nada novo pelo mural desde nosso pequeno desentendimento. Será possível que ficou tão chateada a ponto de me evitar? Resolvi ligar para sua casa.
- Alô? - Era a irmã. - Boa tarde, a Alice está? - Olha só, ela morreu...
Continua...
enviado por César as 16:35

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